24.2.08

..

Sonhei com um soneto somente.
Era apenas um soneto, um soneto só.
Um soneto tão sozinho que dava dó.
Sonhei com um soneto, indiferente.

Era apenas um soneto, soneto mudo.
Ele não pedia nada, não me falava.
Entretanto me encarava, a tal me olhava
Como se quisesse pôr-me a par de tudo.

Mas era apenas um soneto, era mais um
Era apenas mais um sonho, mais um perdido
E era apenas um olhar, olhar algum...

Noutro dia outra manhã, novos olhares
Dessa velha solidão nos calcanhares
E um soneto a me espreitar, adormecido.

Lucas Tenório.

22.2.08

O que me resta é esquecer.


Caí.
calei, emudeci.
chorei, entristeci.
amei, não resisti.

havia de ser assim.

você apenas viu.
você apenas decidiu
ficar do lado de lá.
você não errou

havia de ser assim.

vou embora para longe
sem nem sair daqui.
trilhando caminhos
que só pertencem a mim.

Mas não vou virar pó,
Não vou desaparecer.
Vou embora com o tempo,
tentando aprender,
Teorias pra esquecer

esquecer que tudo é azul,
esquecer que tudo são flores.
esquecer sinas e sinais
e desamores.

Deixe-me calar.



Palavras não são suficientes.

a mente gera a concepção,

o coração não.

Gestos são meros acasos.

abraços sem integração,

imaginação. Pó.

Creioemnadacadapartículaprogramadaparailusão

.

Os versos são mudos..


Só o teu coração quente,
e nada mais

Meu paraíso um campo
sem rouxinol
nem liras,
com um rio discreto
e uma fontezinha.

Sem a espora do vento
sobre a fronde,
nem a estrela que quer
ser folha.

Uma enorme luz
que fosse
pirilampo
de outra,
num campo de
olhadas partidas.

Um repouso claro
e ali nossos beijos,
lunares sonoros
do eco,
se abririam muito longe.

E teu coração quente,
nada mais.


Federico García Lorca.

Desejo a ti...




...Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever poemas de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Uma festa Um violão Uma seresta
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
E muito carinho meu.

21.2.08

[Des]concerto


Isso parece bom
mesmo fora do tom
mesmo desafinado
mesmo descontrolado,
mas bom.

Isso parece errado
mesmo soando bom
Mesmo tom sobre tom
mesmo bem amarrado,
mas errado.

Tudo parece guerra
Mesmo num paraíso
Mesmo com teus sorrisos
Mesmo que sem conflitos,
Mas guerra.

Isso me é tão agradável.
Mesmo que pelos muros, cercado
Mesmo que por vários, seguido
Mesmo que pela dor, movido
Mesmo assim estais em mim,
e isso me é de todo agradável.

Lucas M.

19.2.08

Fernando Pessoa~


" Entre a noite que cessa
E o começar do dia,
Meu coração tem pressa
Da tua nostalgia.
Não é que te deseje
Ou te quisesse ter,
Ou dos sonhos, voando, beijo
A ideia de te ver.
Quer só tua saudade;
Ama o lembrar-te, e não
A sombra da verdade
Ou o corpo da ilusão."

Imago




Que

Pensas

De

Mim

?




Ima ..........ginação fértil que te faz presente

Ge ........................rminando nos sonhos a semente

M.........................................ais venenosa.


A imagem de um simples corpo,

Refletida por espelhos curiosos.

Fragmentos da realidade

que nunca existiu.


Lucas M.

Fernando Pessoa~


"Tão abstrata é a idéia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco-os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a idéia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter-me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo."

(entrelinhas das entrelinhas)

"O poeta pede ao seu amor que lhe escreva."





Amor de minhas entranhas, morte viva,
em vão espero tua palavra escrita
e penso,com a flor que se murcha,
que se vivo sem mim quero perder-te.

O ar é imortal. A pedra inerte
nem conhecea sombra nem a evita.
Coração interior não necessita
o mel gelado que a lua verte.

Porém eu te sofri. Rasguei-me as veias,
tigre e pomba, sobre tua cintura
em duelo de kordiscos e açucenas.

Enche, pois, de palavras minha loucura
ou deixa-me viver em minha serena
noite da alma para sempre escura.

=Frederico García Lorca=

18.2.08

.


Tudo mudou de repente.
A noite virou dia e o dia não existe mais.
O presente virou futuro e o futuro não existe mais.
Tudo se transformou num grande labirinto.
Bem aventurados aqueles que chegam ao final.

Não haviam serpentes no paraíso,
só anjos e sonhos e nuvens e versos.
Antes nem desespero nem angústia.
Agora...
E agora?

Agora Há ácido solvente nas entranhas,
Há água ardente nos olhos,
Há carnificina no cérebro,
Há impureza no tato,
Há estupidez nas palavras.

O tempo passa lentamente pela tela.


Lucas M.

Afluir-me a ti.


Cortei-me os dedos.
As gotas escuras escorrem no papel.
E nos olhos cor de abóbora,
uma singela lágrima.

Na parede a silhueta de uma máscara
Desafiando qualquer mistério.
Tão medonha, porém tão frágil
quanto um véu de tarlatana.

Na colisão do meu olhar fugaz, o fulgor.
Na intimação das suas palavras, a descoberta.
No desejo algoz, a cleptomania de querer o nubente.
Na mente, o peso da culpa.

Dentre mãos alheias envolvo-me, agora.
Apenas por um fino raio d’aurora.
Deus me tantaliza, austero.
Um coração enleado no meio dos trilhos.

Encontrar-me-ei algures.

Lucas M.

Amplexos

Teus braços.
Alvos, fortes laços.
Garras
Embaraços nos meus

Tantos pensamentos
Há! Braços os teus.
Suspiros, momentos.
Nos meus abraços

Quatro braços em um abraço.
Em um silêncio o descompasso
O amparo inocente de um irmão,
O veneno ardente do escorpião.

Os teus braços com desvelo
Nos meus braços avessos
Desejos desiguais.
Uns tão puros.
Outros tão carnais.

Em um casulo o abrigo.
Um abraço amigo em braços proibidos.
Mas apesar disso de tudo e daquilo,
Apenas contigo,
E só.

Lucas M.

pós-morte.


Atormentado por vozes que me perseguem,
Entorpecido por pesadelos intermináveis,
Quando vou acordar?
Meus dias passam lentamente...
Sinto-me vazio, perdido de mim mesmo.
Onde está minha alma?
Por onde vaga meu espírito?
Lucas M.

Perdido num pesadelo.

cansado de vagar na escuridão,
procurando por lembranças que perdi.
estais em todos os lugares e em lugar nenhum
és a esperança do eterno,
és a certeza de um fim..

Lucas M.

Egoísmo fatal.

vc foi embora..
e agora?

e raios da aurora?
e sonhos de outrora?
e os planos? as fantasias?
e agora?

cadê a lua daqui?
ruas tão escuras..
cadê a luz daqui?
estrelas tão frias..

e agora eu choro...e continuo chorando,
e olho e vejo e sinto..
o egoísmo das lembranças,
causam a dor da saudade..

cadê você?
já foi embora..
e agora?

e raios da aurora?
e sonhos de outrora?
e os planos? as fantasias?

... foram contigo pra nunca mais voltar.

Lucas M.

Silêncios..


Nada se move..
Nada se transforma..
Tudo é estático,monocromático.
esfereográfico, enigmático.
Lucas M.

Eco interior.






Vozes que vêm de dentro
Minha sina, meu tormento.
Urram com fervor estraçalhando minha calma.


Gemidos amargos,rancorosos
despertam meus medos e pesadelos.
Vozes que lutam por libertar-se de minh'alma.


Esquizofrenia crônica que me põe ,insano
numa psicose deletéria que corrói meus nervos.
Vozes que entoam aleluias meloancólicas.


Vozes de Deuses e demônios!
Vozes de dor e de tortura!
Vozes de Vivos e Mortos!
Vozes de medo e de loucura!


Vozes, apenas vozes..
e nada mais.

Lucas M.